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VI° Encontro dos Fóruns
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9 julho Encontro Internacional da EPFCL
10-11 julho Encontro dos Fóruns
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Izcovich, Luis | O corpo sintoma |
Quinet, Antonio | Com lalíngua no corpo |
Lola López | O corpo: consistência do fala-ser |
Marc Strauss | Variaçoes lacanianas |
Martine Menès | Do corpo indiviso ao corpo falante |
Florencia Farìas | O corpo da histérica – O corpo feminino |
Dominique Fingermann | AINDA O CORPO: perambulações |
Patricia Muñoz | O Mistério do Corpo Glorioso |
IF-EPFCL | Heteridade n°8: O « mistério do corpo falante » I |
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«... O homem é uma doença mortal do animal...»
Kojève, Introdução à Leitura de Hegel, 2ª edição.
O mistério do corpo falante: a expressão vinda do Seminário Encore (Mais, Ainda) é própria à veia de Lacan: ela projeta o brilho de seu cristal lingüístico muito aquém dela mesma para ressaltar-se muito além.
Aquém, principalmente por se exercer numa cultura que produziu o mistério da encarnação e do verbo que se fez carne, mas também aquém de seu próprio ensino, redutor de mistério, se é que ele o fez. Pois, a operatividade reconhecida da palavra, ele soube fazê-la bascular do campo religioso em direção ao da estrutura da linguagem: lá onde o isso fala do inconsciente pode dar uma resposta que não seja inefável. Qual melhor lugar do que a bela cidade papal de Roma para colocá-la no banco dos réus?
Mais além, o que se perfila não é um ressalto de uma tese já clássica, mas um novo passo de saber em direção, paradoxalmente, a um mistério ateu que extirpa da palavra sua dimensão religiosa.
Porque o que anuncia a expressão seria antes uma singular... biologia, que diz respeito a um outro real que aquele de que se ocupa as ciências da vida, um real que, entretanto, não se impõe menos à experiência e que somente a psicanálise permite ter acesso.
Se há mistério, não é o da palavra que se faz carne, mas o da carne que fala. Oscila, pois. Certamente, ela não o faria se não tivesse tomado a voz do inconsciente, como Lacan sublinha em L'étourdit(1), e nesse sentido seus enigmas não são simplesmente os da vida, mas da propriedade do vivo, que se chama gozo (jouissance), que se distingue da questão das homeostases do organismo, o qual o biólogo ignora essencialmente, apesar dos estudos sobre a dor, e do qual o psicanalista faz seu objeto, já que são falantes.
Da biologia freudiana, como Lacan a nomeou, se poderia imaginar que, com seu vocabulário da vida e da morte, correspondesse às inquietações da ciência biológica, hoje muito triunfante, veja a famosa fórmula de Bichat. É, entretanto, o erro que Lacan tentava denunciar qualificando-a de... freudiana.
Nem Eros e nem Tânatos são dados da experiência, Freud mesmo os formulou assim, suas pulsões de vida e de morte são herdeiras do campo livre deixado ao pensamento analítico quando se confronta com os enigmas, estes, muito bem experimentados, da repetição no que ela comporta, ao mesmo tempo, de entropia e de insistência de gozo.
Eu digo pensamento, Lacan, em 1964, disse mitologia a propósito da teoria das pulsões, e acrescentou que elas não são uma remissão ao irreal, pois é o real que elas mitificam, comumente, mitos(2) - subentendido, pelo erro de não chegarem aí pelas vias da linguagem. Esse termo mitologia seria, creio eu, uma forma de elevar a dignidade epistêmica do delírio freudiano. Provavelmente, na ocasião do Encore, ele teria antes dito elucubração a fim de marcar a distância mantida do real impensável, esta distância que o termo mistério inscreve justamente na expressão mistério do corpo falante. Em todo caso, quer seja mitologia ou elucubração, isso deveria prevenir a aplicação sem a mediação da dita pulsão de morte freudiana, aporia conceitual se o é, aos verificáveis imediatos da clínica, e, sobretudo, confundida com a simples disposição à agressão, quer seja dirigida contra o outro ou contra si. Curiosamente, Lacan mais que Freud multiplicou as referências diretas aos registros efetivamente biológicos, ditos os enigmas da vida, (Zoé), longe de negligenciar o nome do simbólico ou de confundi-las com Bios. Sobre três pontos essencialmente: nascimento, mortalidade, e sexo. É, primeiramente, a prematuridade do nascimento, à qual se faz condição real, entendamos vital, da abertura à linguagem. E depois, a morte individual nas espécies se reproduzindo pelas vias do sexo, e que lhe parece duplicar do lado biológico a perda dada à linguagem. Enfim, é claro, a bissexualidade biológica(3), macho fêmea, ela, bastante acentuada por Freud, mas que não faz nem o homem nem a mulher, e que impõe ao discurso produzir nos falantes duas metades, como disse em L'étourdit(4), homólogo à sex ratio que sustenta a reprodução da vida - sob a reserva do que a ciência nos promete hoje em matéria de reprodução.
A expressão mistério do corpo falante está, contudo, em outro nível, o que deveria surpreender tendo em vista o que precede das teses lacanianas, este mistério mais do corpo falante. Na medida em que a frase inteira redobra a ênfase: o real, eu diria, (...), é o mistério do inconsciente(5). Eis a última subtração do registro do Simbólico e reservado ao registro do enigma. Como uma novidade, esta decididamente é.
Poder-se-ia colocar no programa das elaborações sucessivas de Lacan, tentando pensar a tomada sobre o corpo substância do isto fala do inconsciente. Elas não datam do Seminário Encore. Seguindo principalmente as definições de pulsão, do sintoma e da relação sexual. Da pulsão que faz eco ao dizer da demanda, e pela qual eu falo com meu corpo, que diz o que eu quero e, por conseguinte, o que lhe falta. Do sintoma, evento do corpo no encontro das palavras com o gozo. Da relação sexual que o palavrório convoca incessantemente, mas sem jamais alcançar escrevê-la.
Mais interessante ainda do que seguir seus passos sucessivos seria ver o que se avançou radicalmente como inédito com esta expressão. Ela é solidária a todas as novidades que a cercam no texto de Encore. Eu lembro alguns enfoques: o inconsciente que se decifra é elucubração, hipotética; lalangue, que não é uma estrutura, só passa à linguagem, ao saber falado, por sua coalescência com o gozo, segundo as contingências individuais. Daí, os enfoques trazidos pouco depois em o inconsciente real, encarnado, desconectado do sentido do sujeito, na redução da verdade e na promoção do termo parlêtre, sem se falar do sinthome. Eis, sem dúvida, o que convém desdobrar e ilustrar clinicamente, não sem tirar disto as diversas consequências do que se refere, principalmente, aos limites da visada do saber, à possibilidade da transmissão, ao passe do fim de análise e ao analista que ela requer.
Colette Soler, 28 de fevereiro de 2009.
(Tradução: Rosanne Grippi e Olympio Xavier)
1 J. Lacan, « Létourdit », Scilicet 4, Seuil, 1972, p. 20.
2 J. Lacan « Du Trieb de Freud », Ecrits, Seuil 1966, p. 853.
3 idem
4 J. Lacan, « Létourdit », op. cit., p. 12 et 19.
5 J. Lacan, Encore, Seuil, 1975, p. 118.
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